domingo, 26 de dezembro de 2010

A Visita

Dizem que o tempo passa... eu prefiro acreditar que ele, na verdade, voa!!! Acreditar não: ter a certeza!

Por incrível que pareça, hoje, dia 26/11/2010, faz um mês que Deus chamou de volta seu anjo... Faz um mês que, a essa hora, eu mantinha um olhar fixo, incrédulo, relutante!!!

Fomos à missa, pela manhã...

Após um longo tempo sem ir à Igreja em que minha vó frequentava, vi que também ali o tempo havia passado: pessoas de outrora, ali continuavam, porém, diferentes, abusadas pelo tempo... Vi que, fora isso, as coisas pareciam as mesmas, nos mesmos lugares: os mesmos rituais, o mesmo culto, no entanto, algo não estava mais ali... Sim, e esse era, precipuamente, o motivo de eu estar ali...

Logo após, fomos visitar minha vó...

Sabe, estava acostumado a, para vê-la, simplesmente olhar reto pela porta da sala... Sempre a via em sua cozinha, mexendo com suas panelas, ou, sentada em seu sofá... Quando ali não estava, era sinal de que, ou tinha ido resolver alguma coisa, ou, que, dali a instantes, teríamos de ir buscá-la na feira... Se bem que, para "vê-la", bastava que eu parasse, por alguns instantes o que estava fazendo e, prestasse um pouquinho de atenção: era o suficiente para, sem demoras, ouvir sua voz e, pelo que tinha ouvido, já ver, diante dos meus olhos, a cena que estava a acontecer...

Sabe, eu estava acostumado a, para visitá-la, ter que atravessas a imensidão de um corredor de 50 centímetros, que separa nossas casas... Isso, quando não era ela que me visitava, atravessando o mesmo caminho... Nem chamava isso de visita, afinal, isso era constante!!!

Sabe, eu estava acostumado a encontrá-la, por aí, caminhando, voltando das lojas, do mercado, da feira, enfim, de ter ido resolver suas coisinhas... ou, ainda que infelizmente, repousando no sofá, em sua cama, mas, sempre, aqui, no nosso lado, no nosso convívio...

Mas, neste dia, não foi bem assim... na verdade, não foi NADA assim!!!

Em primeiro lugar, não a vi... só o que vi, foi uma tampa de cimento, lacrando um buraco profundo no solo... O mesmo buraco em que, há um mês, vi sendo baixada uma das pessoas que mais amo no mundo...

Depois, para essa visita, tive de me deslocar até um local nada agradável onde, no caminho até ela, fui me deparando com tios, avô, parentes, enfim, pessoas que já se foram de nossa convivência!!!

Por fim, apenas o que encontrei, foi o local, o último local onde ela habita, fechado, e, às margens dele, eu, tentando ainda me convencer de que a pessoa que lá embaixo estava, na gaveta de nº 3, era a mesma que eu me acostumara a conviver com ela...

Por ironia do destino, enquanto isso, um outro enterro acontecia a poucos metros dali e, uma mulher, dizia exatamente o que eu pensara a exato um mês atrás, só que no caso dela, o parentesco era outro: "eu quero minha mãe... eu não quero deixá-la aqui!!!"

Enquanto tentava fazer com que as velas que acabara de acender permanecessem acesas, me perguntava se tudo aquilo tinha sido verdade... toda a sofrível trajetória dos últimos tempos, e, que culminou com aquilo que eu, ainda relutante em acreditar, vivenciara há exatamente um mês atrás!!!

Enquanto ficava ali, parado, olhando para os nomes dos atuais "vizinhos" de minha vó, ficava imaginando que, do jeito que ela era impaciente, falante, expansiva, certamente, estaria a essas horas, contando os "causos" da vida para eles... Fiquei imaginando isso e tentando me convencer de que realmente era a mesma pessoa que, agora, terrenamente falando, residia ali, na quadra 5, túmulo 55, gaveta 3 do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha... E, sabe quando parece que, embora saibamos de algo, tenhamos certeza disso, ainda assim, achamos que é mentira??? Pois é...

Juro que tentei me manter forte, firme, mas, após ter feito isso por mais de 30 dias, não deu mais... Lágrimas, teimosas e inoportunas, teimaram em escorrer pelo rosto... Após conseguir interromper-lhes o prosseguimento, inevitável foi o nó na garganta que me acompanhou por todo o trajeto de volta...

Sei que tenho que fazer e que farei essa visita mais vezes, mas, gostaria de não mais o fazer... gostaria de estar vivendo o mais absurdo pesadelo e que, ao acordar, visse que nada mudou e, que, para visitar a quem tanto amo, basta dar um salto a partir da porta da sala!!!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Contradições

                                                  

 


Há muito tempo, aprendi na escola algo que não acreditei: a cor branca condensava, na verdade, todas as cores, enquanto que o preto, significava a ausência delas!!!
Como poderia ser isso??? O branco, segundo os olhos da lógica, não tem cor alguma, ao passo que o preto sim, este, dada sua tonalidade carregada, seria perfeitamente possível de ser o resultado da mistura de diversas pigmentações...
Mas, as explicações e as demonstrações demonstraram que, ainda que aparentemente avesso ao que aponta a racionalidade humana, isso estava certo!!!
Mas, agora, vejo uma outra contradição... uma contradição, eu diria, maior, afinal, não fica somente no plano da teoria, mas, da realidade!!!
Quem já não sentiu um vazio??? Sim, a falta de algo ou alguém???
Basta não se ter aquilo ou aquela pessoa de quem tanto se gosta por perto, para esse vazio aparecer... Mas, será mesmo que se trata de um “vazio”???
Vejamos...
Quando aquilo de que gostamos não se encontra por perto, o que logo nos vemos a sentir? Falta dele, quase sempre!!! E, ao mesmo tempo que sentimos essa falta, começamos a pensar em tudo o que vivemos com o que ora nos falta, em todos os momentos vividos, em todas as sensações que tivemos enquanto o ser ausente estava ao nosso lado... Em se tratando de uma pessoa, que não mais nos brinda com sua presença, esses pensamentos vão ainda mais longe... Ficamos nos lembrando das alegrias vivenciadas, de quanto orgulho aquela pessoa nos dava, de como era bom fazer ou conquistar algo e ver nos olhos dela aquele brilho todo especial, de reconhecimento, de felicidade, de orgulho!!!
Enfim... da mesma forma como ocorre com as cores, também o vazio deixado por alguém não é um vazio completo, no estrito sentido da palavra, muito pelo contrário!!! É um conglomerado e uma tempestade de pensamentos, de lembranças...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Tempo

Tic tac... Tac tic...
Tic tac... Tac tic...
E, assim, o relógio prossegue seu caminho...
Tic tac... Tac tic...

Olhamos para ele,
Muitas vezes com pressa, atrasados,
Apenas vemos as horas,
Porém nunca o observamos com profundidade!

Os tic tacs parecem sempre os mesmos,
A sinfonia que ouvimos, nunca muda,
Ele está lá, imponente, robusto,
Com a melodia que se acostumara a tocar...

Os ponteiros, são sempre os mesmos,
Os números, também,
Seus movimentos, não saem da órbita,
E então: sempre tudo igual?

Sabemos que o relógio
Serve para as horas marcar,
Sempre as mesmas, sempre iguais,
Não importa os dias que passar...

Mas, há algo nisso tudo
Que não percebemos,
Ainda que esteja ali
Todos os dias, com o relógio insistindo em nos mostrar...

O tempo passa,
Disso, não temos dúvida!
Dia após dia, sempre a se repetir...
Ops, será mesmo???

Será mesmo que todas as nove horas são iguais?
Será mesmo que a meia noite que passou é a mesma que vai voltar?
E as sete e pouco: vou-a ver de novo?
O mesmo digo das dezoito e das dezesseis!!!

Talvez, se pudesse falar,
Com certeza o relógio estaria a nos avisar
Que aquele tempo que acabou de passar,
Infelizmente nunca mais irá voltar!!!

Dia após dia, hora após hora,
Momentos são vividos,
Momentos são desperdiçados,
Momentos vão passando...

Mas, uma coisa é certa:
Seja o que for que fizermos com eles,
Os momentos são únicos e não voltam mais,
Eles não se repetem, se vão com o tempo!!!

A cada volta que o ponteiro dá,
Um espaço de tempo ficou para trás,
Uma oportunidade no tempo se perdeu
E não mais terá chance de voltar, ainda que isso nos faça chorar!!!

Tic tac... Tac tic...
Tic tac... Tac tic...
O relógio continua sua melodia,
Dia e noite, noite e dia!!!







sábado, 11 de dezembro de 2010

O Buraco

Ele faz parte de nossos dias...
Ele está presente ao nosso redor....
Quantas vezes não saímos de casa, olhamos na rua e, heis à nossa frente um buraco?!?!?!
Quantas vezes, numa viagem, não nos deparamos com ele???
Mas, muitas vezes, o olhamos e sequer paramos para pensar sobre ele...
Afinal, o que é um buraco???
Fiquemos, por enquanto, com uma imagem, talvez, a mais corriqueira: um buraco em uma calçada, em uma avenida...
Olhamos aquela imagem e, quase sempre, só damos alguma relevância a ela, quando causa algum tipo de transtorno: não o vemos com antecedência e nele tropeçamos/pisamos em falso, nosso carro passa dentro dele e se danifica...
Mas, afinal, o que é esse tal buraco???
Talvez nunca tenhamos parado pra pensar que ele, na verdade, representa a ausência de algo, a falta de alguma coisa...
Talvez nunca tenhamos parado pra pensar que, o fato de ali haver aquilo a que chamamos de "buraco", significa que, um pedaço daquele todo, seja ele uma via, uma calçada, não mais está ali, presente, completando a integridade daquele todo...
Talvez nunca tenhamos tido essa percepção, de que, por mais compreensível que seja sua formação, algo ali está errado, afinal, porque o todo não continuara completo, íntegro???
Talvez nunca tenhamos parado pra pensar nesse mesmo buraco, mas, em nossas vidas, em nossas famílias: onde antes uma família completa se reunia para um momento especial, agora não mais há essa completude... um buraco ali se formou...
E, por mais que compreendamos que, da mesma forma como uma rua perde um pedaço de si com o tempo, pessoas também se vão, é difícil encarar o buraco, quando ele se instala em nossas vidas!!!!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um Estalo



Como essa vida é ingrata e imprevisível...

Quando acordamos, pela manhã, quase nunca nos lembramos de ficarmos contentes por estarmos vivos, por mais um dia a ser desfrutado, por mais uma oportunidade de viver e de estar com quem amamos!!!

Vivemos num mundo marcado pela agitação, pela globalização, pela pressa!!! Quantos não são os dias que levantamos atrasados, nem nos lembrando que somos organismos vivos, que precisam de cuidados, e, nos tratamos como máquinas: uma migalha de combustível, um “tapa” na lataria, e, vamos embora, é preciso estar a todo vapor, em pleno funcionamento...

Quantos não são os dias que, ao levantarmos, sequer olhamos com bons olhos para aqueles que estão ao nosso lado, seja ele um parente, um amigo, um companheiro... Passamos por ele, como dois automóveis que passam um pelo outro na rua: apressados, querendo falar mais alto para se impor, para mostrar ter razão...

É!!! Assim é e tem sido a vida... cada dia mais e mais e mais e mais...

Mas, devido a essa mesma correria, não nos damos conta que esse cenário não é absoluto, ele não é eterno... Da mesma forma como as máquinas, que tanto fazemos questão de imitar, não somos infalíveis, à prova de panes... O organismo humano, quando menos se espera, tem seu “curto-circuito”, um apagão... Quando menos esperamos, aquela pessoa, dantes figurante em nosso dia-a-dia, torna-se ator principal, mas, não em um filme de comédia ou de ação, mas, num filme de drama!!!

Quando menos esperamos, vemos aquela pessoa, tão querida, mas, deixada de lado, muitas vezes, não intencionalmente, mas, pelo ritmo de vida que levamos, não mais se mantém na raia, não mais está ali, quando acordamos, quando olhamos para além de nosso umbigo...

Quando menos esperamos, essa pessoa, tão querida, mas, ao mesmo tempo, tão “esquecida”, não mais participa de nossos dias, de nossas ações, de nosso cotidiano... Essa pessoa, tornara-se “um papel”, uma certidão... Sim, uma certidão!!! Uma folha de papel a ser guardada na gaveta, num arquivo, enquanto, a lembrança daquela pessoa é por nós guardada no coração, enquanto em nossas mentes, um pensamento teima em não calar: PORQUE???????

domingo, 5 de dezembro de 2010

E Agora, José???


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
(...)

Pobre José, colocado contra a parede por seu criador, o genial Carlos Drummond de Andrade!!! Mas, será que só o José é posto em xeque, ou, será que também nós não o somos, ainda que sem perceber??? Será que somente ele é instigado a tomar certas decisões, ou também nós, ainda que instintivamente, tenhamos de decidir o que fazer, como agir, o que pensar???

Mais uma vez, vimos um ano, um ciclo, passar diante de nossos olhos... Um ciclo? Isso mesmo, um ciclo! Não falo aqui de ciclo astral, ou nada que o valha, mas, muito pelo contrário, de algo muito mais simples e corriqueiro, algo pelo que já passamos e ainda passaremos, mas, talvez, sem nos dar conta.

Ontem mesmo, me lembro bem, estava dente os meus, em casa, mas, dentre os meus... Como em todos os anos praticamente, estávamos em casa, na sala, tentando encontrar na tv algo aprazível aos olhos e à mente, mas, sem tirar os olhos do relógio. Como a programação televisiva não colaborava muito, os olhares aos ponteiros instáveis eram ainda mais constantes.

Após repetidas investidas contra os marcadores do relógio da sala, havia chegado a hora, a hora de irmos para o quintal, ouvir e ver os fogos eclodirem nos ceús: eram 23:15 horas do dia 31 de dezembro!!!

Como em muitos, pensamentos mil vieram à mente. Coisas passadas, presentes, sonhos, planos, mas, o principal deles: “o que será que este novo ano nos reserva?”

Após alguns minutos de olhares atentos para o manto negro que cobria nossas cabeças, iluminado pelo brilho incandescente dos artefatos explosivos, após o estourar da champagne e do brinde, ainda que solitário, tudo se acalmara e era hora de nos recolher.

Pois bem... No dia seguinte, ao acordar, logo me dei conta: Janeiro havia começado e, com ele, o primeiro dia do ano nascente, um dia repleto de esperanças naquilo que estaria por vir, nos sonhos, nos desejos, nos objetivos para os doze seguintes meses...

A vida voltara ao normal: dia 02, hora de voltar ao trabalho e aquele sentimento de esperança ainda pairava no ar, um sentimento bom, um sentimento de que algo iria acontecer.

Mas, o tempo, senhor de seu caminhar que é, tratou de se apressar... Logo, já era fevereiro, seguido por março, abril, maio e junho. Isso mesmo: JUNHO!!! Metade do ano já havia chegado e ainda parecia ouvir os fogos de artifício tomando o céu com seus brilhos cintilantes e sons estrondosos!!!

Os meses pareciam, esses sim, determinados a algo: a se sucederem com extrema voracidade! Adveio na sequência julho, agosto, setembro, outubro e novembro... Sim, NOVEMBRO!!! Relutei em aceitar, mas, o calendário insistia em sua posição: estávamos em novembro!!!

Após um choque por ver em que ponto do ano já estávamos, lembrei-me de uma coisa, algo que, para mim, tinha-me vindo à mente semana ou mês passado, mas, que já havia ocorrido há mais tempo: faltava, novamente, um mês para o Natal!!! Parecia algo surreal: novamente, as lojas  estavam lá, todas enfeitadas e com os já tradicionais artefatos natalinos! É, acreditar não podia, a mente a isso refugia, mas, era verdade: novamente, o Natal se aproximava!!!

Mas, da mesma forma que os antecessores, novembro também não tardou a se esvair, jogando em nossos colos, ou melhor, nos jogando no colo do último mês do ano, um ano, ainda ontem, acabara de irradiar seus primeiros raios de luz, seus primeiros sussurros de vida...

Agora, da mesma forma que a criação do grande Drummond de Andrade, somos convocados à uma decisão: e agora, o que fazer??? Festejar esta época do ano, um período de muita união entre as famílias, comemorações, ou, nos lembrar daquilo que passamos, dos bons e dos maus momentos? Fazer novos planos para o ano que, em questão de dias, desabrochará, como um botão de rosa, ou, simplesmente, pensar em como foram os últimos 365 dias e naquilo que erramos? Trazer ao nosso pensar tudo aquilo que não fizemos e tudo aquilo que aconteceu, ainda que contra nossa vontade ou esquecer o passado e nos concentrar no presente???

E AGORA, JOSÉ?