Dizem que o tempo passa... eu prefiro acreditar que ele, na verdade, voa!!! Acreditar não: ter a certeza!
Por incrível que pareça, hoje, dia 26/11/2010, faz um mês que Deus chamou de volta seu anjo... Faz um mês que, a essa hora, eu mantinha um olhar fixo, incrédulo, relutante!!!
Fomos à missa, pela manhã...
Após um longo tempo sem ir à Igreja em que minha vó frequentava, vi que também ali o tempo havia passado: pessoas de outrora, ali continuavam, porém, diferentes, abusadas pelo tempo... Vi que, fora isso, as coisas pareciam as mesmas, nos mesmos lugares: os mesmos rituais, o mesmo culto, no entanto, algo não estava mais ali... Sim, e esse era, precipuamente, o motivo de eu estar ali...
Logo após, fomos visitar minha vó...
Sabe, estava acostumado a, para vê-la, simplesmente olhar reto pela porta da sala... Sempre a via em sua cozinha, mexendo com suas panelas, ou, sentada em seu sofá... Quando ali não estava, era sinal de que, ou tinha ido resolver alguma coisa, ou, que, dali a instantes, teríamos de ir buscá-la na feira... Se bem que, para "vê-la", bastava que eu parasse, por alguns instantes o que estava fazendo e, prestasse um pouquinho de atenção: era o suficiente para, sem demoras, ouvir sua voz e, pelo que tinha ouvido, já ver, diante dos meus olhos, a cena que estava a acontecer...
Sabe, eu estava acostumado a, para visitá-la, ter que atravessas a imensidão de um corredor de 50 centímetros, que separa nossas casas... Isso, quando não era ela que me visitava, atravessando o mesmo caminho... Nem chamava isso de visita, afinal, isso era constante!!!
Sabe, eu estava acostumado a encontrá-la, por aí, caminhando, voltando das lojas, do mercado, da feira, enfim, de ter ido resolver suas coisinhas... ou, ainda que infelizmente, repousando no sofá, em sua cama, mas, sempre, aqui, no nosso lado, no nosso convívio...
Mas, neste dia, não foi bem assim... na verdade, não foi NADA assim!!!
Em primeiro lugar, não a vi... só o que vi, foi uma tampa de cimento, lacrando um buraco profundo no solo... O mesmo buraco em que, há um mês, vi sendo baixada uma das pessoas que mais amo no mundo...
Depois, para essa visita, tive de me deslocar até um local nada agradável onde, no caminho até ela, fui me deparando com tios, avô, parentes, enfim, pessoas que já se foram de nossa convivência!!!
Por fim, apenas o que encontrei, foi o local, o último local onde ela habita, fechado, e, às margens dele, eu, tentando ainda me convencer de que a pessoa que lá embaixo estava, na gaveta de nº 3, era a mesma que eu me acostumara a conviver com ela...
Por ironia do destino, enquanto isso, um outro enterro acontecia a poucos metros dali e, uma mulher, dizia exatamente o que eu pensara a exato um mês atrás, só que no caso dela, o parentesco era outro: "eu quero minha mãe... eu não quero deixá-la aqui!!!"
Enquanto tentava fazer com que as velas que acabara de acender permanecessem acesas, me perguntava se tudo aquilo tinha sido verdade... toda a sofrível trajetória dos últimos tempos, e, que culminou com aquilo que eu, ainda relutante em acreditar, vivenciara há exatamente um mês atrás!!!
Enquanto ficava ali, parado, olhando para os nomes dos atuais "vizinhos" de minha vó, ficava imaginando que, do jeito que ela era impaciente, falante, expansiva, certamente, estaria a essas horas, contando os "causos" da vida para eles... Fiquei imaginando isso e tentando me convencer de que realmente era a mesma pessoa que, agora, terrenamente falando, residia ali, na quadra 5, túmulo 55, gaveta 3 do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha... E, sabe quando parece que, embora saibamos de algo, tenhamos certeza disso, ainda assim, achamos que é mentira??? Pois é...
Juro que tentei me manter forte, firme, mas, após ter feito isso por mais de 30 dias, não deu mais... Lágrimas, teimosas e inoportunas, teimaram em escorrer pelo rosto... Após conseguir interromper-lhes o prosseguimento, inevitável foi o nó na garganta que me acompanhou por todo o trajeto de volta...
Sei que tenho que fazer e que farei essa visita mais vezes, mas, gostaria de não mais o fazer... gostaria de estar vivendo o mais absurdo pesadelo e que, ao acordar, visse que nada mudou e, que, para visitar a quem tanto amo, basta dar um salto a partir da porta da sala!!!